“…Brahmacarya como celibato

Por extensão, dado que estudantes não casam, a palavra brahmacarya passou a designar o voto de castidade ou celibato. É com esse significado que esta palavra entra no Yoga.

Geralmente, a palavra brahmacarya aparece por primeira vez para os praticantes através da leitura do Yogasūtra, os “Aforismos de Yoga”, texto atribuído ao sábio Patañjali, que teria vivido nos séculos entre Buda e Cristo e que, de tão famoso e relevante, é considerado uma espécie de Bíblia do Yoga. Nesse texto, brahmacarya é o quarto dos cinco preceitos de conduta chamados yamas.

Porém, traduzirmos brahmacarya simplesmente como castidade, não coincide com a realidade em que vivemos. É necessário eventualmente ressignificar essa palavra, uma vez que, se fossemos admitir que o Yoga de Patañjali é unicamente para celibatários, nem o ensinamento  nem as práticas seriam para nós, que vivemos nesta sociedade trepidante.

Pessoalmente, não conheço celibatários fora da vida monástica. Se a abstinência sexual fosse condição indispensável para se dedicar seriamente ao Yoga, acredito que a imensa maioria de nós, praticantes, teria que deixar o Yoga de lado.

Interpretando brahmacarya como celibato, há pessoas que se opõem frontalmente à atividade sexual com finalidade de se obter prazer. Isto porque, equivocadamente, elas associam prazer com perdição, culpa, pecado ou algo intrinsecamente ruim.

Vida conjugal

Na nossa modesta opinião, negar a validade do prazer é tão equivocado quanto achar que é possível ser feliz satisfazendo os próprios desejos. Outros praticantes colocam a abstinência sexual como a solução ideal para evitar perder os fluidos vitais e consequentemente a energia necessária para realizar a tarefa da libertação.

Naturalmente, todos os humanos buscamos o prazer e tentamos nos manter afastados da dor. Não deveríamos cultivar nenhum tipo de remorso ou culpa por termos prazer, desde que isso não fira nem machuque os demais seres.

Assumir o contrário se a pessoa não está preparada para renunciar à própria sexualidade, seria ir contra a própria natureza humana. Portanto, talvez a melhor interpretação do termo brahmacarya, desde a óptica dos humanos vivendo em sociedade do século XXI, fosse fidelidade conjugal, coerência relacional e moderação.

Veja aqui um artigo de Swāmi Dayānanda sobre brahmacarya como celibato.”

Fonte: https://www.yoga.pro.br/sexualidade-ativa-ou-celibato/

Tantra

Complementando o texto do Prof. Pedro, gostaria de explanar a respeito da linha Tântrica, a qual nós baseamos nosso trabalho, aqui, no Tantra Yoga Lab.

Para nós, a linha Brahmacharya vem em “oposição” a linha tântrica. A linha Tântrica é mais antiga e por isso, para alguns, pode ser considerada mais “primitiva”. Sendo uma linha onde o conhecimento ainda era transmitido oralmente, o hinduísmo a classifica como uma Shruti (tradição oral).

O Tantra, como já dissemos em outros textos, é matriarcal, sensorial e desrepressor. Essas características, porém, não significam que o Tantra não acredite na monogamia, que o sexo seja librado, descompromissado, depravado ou qualquer coisa do gênero. Muito pelo contrário.

O estudioso do século V a.C. Pāṇini, em seu Sutra 1.4.54–55 de gramática sânscrita, explica enigmaticamente o tantra através do exemplo de “Sva-tantra” (sânscrito: स्वतन्त्र), que ele afirma que significa “independente” ou uma pessoa que é sua própria “urdidura, tecido, tecelão, promotor, karta (ator)”.

Patânjali em seu Mahābhāṣya cita e aceita a definição de Panini, depois a discute ou menciona mais detalhadamente, em 18 instâncias, afirmando que sua definição metafórica de “urdidura (tecelagem), tecido estendido” é relevante para muitos contextos. A palavra tantra, afirma Patanjali, significa “principal”.

Ele usa o mesmo exemplo de svatantra como uma palavra composta de “sva” (auto) e tantra, afirmando que “svatantra” significa “alguém que é autodependente, alguém que é seu próprio mestre, a principal coisa para quem é ele mesmo”, interpretando assim a definição de tantra.

Matriarcal

Alguns autores associam essas definições ao matriarcalismo, colocando a mulher numa posição privilegiada na família, na sociedade e na administração pública, cultivando uma sexualidade plena. Sendo auto-suficiente e dona do seu próprio corpo, não existe uma doutrinação em relação a isso. Essa liberdade e posição das mulheres não foi aceita pelos áryas após as invasões ocorridas na Índia.

Muito mais do que doutrinar ou criar regras, o Tantra permite o auto-estudo, permite que sem padrões e sem a dominação masculina, afugente, agrida, diminua ou desvirtue o comportamento natural das mulheres, que é essencial para o desenvolvimento saudável da família e da sociedade.

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