Prazer no parto
Prazer no parto: A experiência do parto pode ser extremamente fortalecedora e prazerosa. Apesar de uma pequena porcentagem de mulheres experimentarem um parto com prazer, vivemos em uma era em que as mulheres cada vez mais se tornam protagonistas em seus partos e parirem seus filhos de forma ativa.
Algumas mulheres conseguem sentir prazer no parto, outras não. Mas mais importante que a busca de sentir prazer no parto é podermos, como mulheres, viver o parto da maneira mais humana e consciente possível.
Meu primeiro parto
No meu primeiro parto eu tinha 23 anos. Não sabia o que era um parto humanizado nem violência obstétrica. Passei mais tempo pensando na decoração do quarto do bebê do que em como ele nasceria. Tinha pavor de pensar que poderiam me cortar, fazer uma cesariana e tirar o bebê de dentro do mim, mas a ideia do bebê passando pela minha vagina também não era das mais encantadoras.
Resolvi, naquela época, deixar por conta do acaso, deixar fluir, apesar de ter acertado com a minha médica que o parto seria normal, caso não fosse estritamente necessário uma intervenção cirúrgica.
Na minha inocência e ignorância, eu não sabia que médicos tem pressa, precisam te atender naquela vaga de horário na agenda e com pressa, porque quanto mais partos fazem, mais dinheiro ganham.
Resumindo, uma médica canalha, tentou de todas as formas me induzir uma cesariana, dizendo que o líquido amniótico estava baixo, que minha bacia era pequena e o bebê não passaria, que os batimentos estavam caindo…de 5 em 5 minutos vinha fazer um exame de toque que me doía até a alma.
Pode imaginar a tortura? Mas algo no meu íntimo me dizia que ela estava mentindo. Ela por fim acabou dizendo que o bebê estava demorando a nascer e que as 6h teria um compromisso. Foi nossa deixa para pedir que ela fosse embora ao compromisso dela e que faríamos o parto com o plantonista do hospital.
É preciso ser forte
Foi aí que minha sorte começou a mudar. Um médico gentil, disse ao meu ouvido: “Fique tranquila, ninguém vai te fazer uma cesárea se não for realmente necessário.” Lágrimas de alegria começaram a escorrer pelo meu rosto. Me senti forte novamente. Resolvi aceitar tomar anestesia, pois já faziam muitas horas de sofrimento ali e eu precisava relaxar.
Que alívio! Que sensação maravilhosa poder apenas curtir aquele momento.
Em cerca de 20 minutos a cabeça coroou. Uma enfermeira passando viu e gritou:”vai nascer!” Várias pessoas entraram na sala, o plantão já tinha virado e o médico gentil já não estava mais lá.
No lugar dele uma médica, que eu logo disse: “não quero que me cortem (me referindo a episiotomia).”
Ela disse: “Não tem jeito, tenho que cortar.” Naquele momento eu desisti de lutar, apenas me entreguei
e deixei que fizessem o bem entendessem do meu corpo.
Um enfermeiro começou a apertar minha barriga e eu parecia desfalecida na cama, sem voz. Mas quando a médica me pediu pra fazer força, eu enchi os pulmões e fiz e no momento em que minha filha veio ao mundo eu tive a sensação de que uma bomba atômica tinha caído naquela sala e feito o tempo parar.
Tudo começou a se mover em câmera lenta. Assim que trouxeram ela pra mim, ela me olhou e sorriu. Eu a olhei nos olho e tive a sensação de que ela era minha alma gêmea (leia mais sobre almas gêmeas nesse outro post.).
Memória de dor
Hoje eu percebo esse momento com um orgasmo. Foi muito parecido com as experiências de orgasmos de corpo inteiro que tive com a massagem tântrica. Eu senti prazer no parto mesmo não sendo um parto humanizado. Foi o melhor que podia ser naquele momento, apesar de ter deixado memórias de dor no meu corpo.
Leia também: Massagem tântrica: o que é e como fazer
Em 2009 não se falava tanto sobre parto humanizado, muito menos falariam sobre parto com prazer!
Depois do parto, quando voltei a ter relações sexuais, eu sentia um dorzinha que me incomodava. Eu sabia
que tinha algo a ver com a episiotomia, que já havia mais de ano estava cicatrizada, mas criou um trauma
naquela região.
Quatro anos depois do parto eu recebi minha primeira massagem tântrica. Era uma massagem com manobras feitas na minha vagina. Doeu. Eu não senti prazer nenhum. Senti dor. Mas no meu íntimo eu sentia que
aquilo podia ser um caminho para a cura daquela dor.
Resolvi fazer mais algumas massagens com o Júlio, meu marido, na época meu namorado. Em uma das sessões desatei a chorar. Ele massageou em cima da área fragilizada por alguns minutos e eu fui liberando aquela dor e depois daquilo nunca mais senti dor durante uma relação.
Uma outra chance
Durante a minha segunda gestação eu recebi várias massagens. Eu me formei como Doula e estava certa de que teria
um parto com prazer. Eu achei que meu marido poderia ser minha Doula. Afinal eu confiava nele mais do que em
ninguém e meu maior medo era de que não respeitassem as minhas vontades e eu não pudesse ser protagonista
do meu próprio parto.
Essa falta de confiança numa mulher que pudesse ser minha Doula e que eu pudesse ter a intimidade de ter prazer, orgasmos e receber massagem tântrica durante o parto, fez com que eu não tivesse nenhuma Doula e isso acabou sendo um erro, porque meu marido ficou sobrecarregado com outras questões, como encher a banheira de água quente, ligar para a médica… Eu consegui meu parto natural, sem episiotomia, sem anestesia, mas ainda tive que receber ordens da médica para fazer força. Não consegui um orgasmo.
Para termos um orgasmo temos que estar entregues, por inteiro, nos sentindo seguras. É praticamente impossível
alguém ter um orgasmo com outra pessoa dizendo: “Vai, goza! Agora, você tem que gozar!”.
Agora eu entendi
Eu entendi que no parto e na cama, temos que estar tranquilas, seguras, nos sentindo confiantes, sem medo da dor. A massagem tântrica, durante o trabalho de parto, associada a respirações, técnicas de meditação, podem proporcionar essa confiança, esse prazer e proporcionar um parto mais tranquilo, com menos dor e até orgásmico.
Hoje, ainda tenho a possibilidade de ter mais uma chance de um parto com prazer, mas não sei se quero mais filhos.
Então, tenho a oportunidade de ajudar outras mulheres nesse processo, de ter um parto com mais prazer.
Desde o começo da gestação a mulher pode já ir se preparando, massageando os lábios para evitar lacerações,
fazendo técnicas de pompoarismo para evitar incontinência urinária, praticando algumas técnicas de Yoga e
meditação para já ir se conectando com o nascimento. O companheiro pode aprender como massageá-la…
É muito importante a conexão do casal nesse momento. A doula vai dar a sustentação, vai ajudar em coisas práticas que precisam ser resolvidas para que o casal possa estar em paz para vivenciar o parto. Ela pode indicar o momento ideal para as práticas, relembrar as técnicas aprendidas durante a gestação para que sejam aplicadas.
Como aumentar suas chances de ter um parto sem dor e até sentir prazer
Parto sem dor não é aquele que apenas quando o bebê passa pelo canal vaginal e não dói. A dor que a maioria das mulheres relatam no parto, pode perceber, está associada a violência obstétrica. Uma mulher pode tomar anestesia e ainda assim ter traumas, lembrar da experiência como algo traumático, apesar da bênção que a acompanha, o bebê.
Para evitar a dor e sofrimento nesse momento, a mulher deve, em primeiro lugar, buscar informação. Informação digna, com base em dados na OMS. Em segundo lugar, a mulher deve buscar conhecer o próprio corpo. Conhecer sua anatomia, sua fisiologia, ter intimidade com a própria vagina.
Em terceiro lugar, a mulher deve confiar totalmente no seu parceiro ou na pessoa que estará presente com ela na gestação e no parto, ela que te dará força. Conhecer bem o local aonde resolver parir, se familiarizar, se sentir a vontade no ambiente e fazer o possível para garantir que suas vontades serão respeitadas ( uma forma de fazer isso é organizar um plano de parto).
Depois de garantir o básico para que seu parto seja feito com respeito, a gestante precisará olhar para si mesma, encarar seus medos e entender o parto como um processo natural, que não precisa doer. É difícil, porque já temos o paradigma do parto com dor, mas tente imaginar como a primeira vez que você fez sexo. Dói, mas com a experiência transformamos esse ato natural em prazer. Aplicando algumas técnicas, podemos transformar nosso parto.
Como saber mais
No momento, meus atendimentos presenciais estão acontecendo em Leiria, Portugal, mas se quer conhecer mais sobre o trabalho de conexão do casal, mais sobre as massagens e estados de consciência, nós, eu e o Júlio, meu marido, disponibilizamos materiais gratuitos como o Workshop gratuito de tantra, e alguns ebooks que você pode receber por email cadastrando-se aqui. Você também pode entrar em contato por WhatsApp ou deixar seu comentário aqui em baixo.
Deixo também aqui um vídeo da Bela Gil falando sobre violência obstétrica: